Estamos em 1881! Situada em local muito aprazível, de clima ameno e saudável, na margem esquerda do rio das Mortes, encontramos a progressista São João Del Rei!. (A pintura de R. Walsh mostra São João del Rei em 1829).
A imigração italiana, ao lado da japonesa e alemã, foi empreendida pelo Brasil, ainda no final do Segundo Reinado, sob convincente argumentação. A escravidão estava chegando ao seu fim através da lei do ventre livre e da proibição do tráfego de escravos. Assim, a escassez de mão-de-obra para a expansão da produção agropecuária e industrial, além da necessidade de povoar os grandes vazios do sudeste e sul do país colocaram imigração como alternativa mais viável e vantajosa.
É nessa perspectiva e no fato de que o imigrante será útil para "a indústria pastoril, sericultura com a criação do bicho da seda, sem a incompatibilidade de outras, poderão medrar prosperamente", que o jornal são-joanense Arauto de Minas defende a vinda dos imigrantes italianos para São João del-Rei, em sua edição de 18 de janeiro de 1886.
Fugindo dos problemas acarretados pela unificação da Itália (guerra, desemprego, fome e miséria) e atraídos por intensa e bem dirigida propaganda do governo brasileiro, os italianos deixaram sua pátria em busca de vida digna e prosperidade.
Fonte: palcoteatral.blogspot.com
Família Boscolo
Texto baseado numa entrevista com Roberto Boscolo que fala sobre a vinda de seus avos italianos para o Brasil obtida no site em http://www.museudapessoa.net/hotsites/msjdelrei/boscolo.htm
Identificação
Roberto Boscolo nasceu em São João Del rei, Minas Gerais, no dia 8 de setembro de 1947. Seus avós maternos nasceram na Itália e vieram para cá em 1888 de Florença, porque aqui ganharam terrenos que foram divididos em vários lotes nas diferentes colônias. Quando a lavoura começou a fracassar os italianos foram trabalhar na Fábrica Sanjoanense, ou na rede ferroviária e ou montaram fábricas de móveis e nelas trabalharam.
A Família Boscolo morava em uma casa pequena, de quatro cômodos, o banheiro era fora de casa, mas com o tempo a família foi crescendo, e hoje acasa ampliada. As tarefas em casa eram divididas: as mulheres cuidavam das coisas de casa e os homens cuidavam da horta, de rachar lenha, arrumar canteiro.A família morava no bairro das Fábricas, com espaço para brincadeiras: o Oratório São João que ficava onde é a Cacel,tinha um jardim todo gramado, onde as crianças jogavam bola, e outras brincadeiras como o jogo de bocha. Neste gramado se via o trem passar.
Escola/Educação
Sempre fomos incentivados para estudar, mas só que a gente não tinha muitas condições financeiras. Por isso nós trabalhávamos durante o dia e estudávamos à noite. Entrei na escola com sete anos, e eu mesmo me matriculei, com a certidão de nascimento que meu pais havia me dado. Minha primeira escola foi o grupo escolar Aureliano Pimentel. Naquela época, na escola, apanhávamos muito, mas era muito gostoso, era bem diferente da escola de hoje.
A educação influenciou muito na minha personalidade. Tínhamos que obedecer aquelas regras rígidas da escola, fazíamos as tarefas e se não podia faltar mesmo. Eu estudei até os doze anos. Estudei uma parte no turno da manhã e uma parte no turno da tarde. Porque o 1º e 2º ano funcionavam no turno da tarde, e à partir do 3º ano era no turno da manhã. Então nós saíamos de casa com as mochilas, quer dizer não tinham mochilas, nós levávamos o embornal, com pouco caderno e material escolar.
A educação religiosa que tivemos foi a católica. Tivemos educação política por causa das pessoas do bairro e também de meu pai, que gostava muito da política, particularmente do partido UDN (União Democrática Nacional).
Vida no bairro
Quando eu era criança a situação era bem diferente. Nós não tínhamos calçados direito e tínhamos muita dificuldade de ordem financeira. O problema era sério na época, porque nossa família era muito grande. Mas tínhamos muitos amigos, todo mundo aqui no bairro era amigo, essa criançada toda. Quando eu crescesse, pretendia ser um grande historiador, mas enfim, não deu. Minhas brincadeiras preferidas eram pique-pega e pique de esconder.
Trajetória profissional
Atualmente eu trabalho no Museu Regional. Meu primeiro emprego foi no Colégio São João por pressão familiar, para ter uma atividade. Então eu estudava e ia para o colégio. Mas a primeira profissão que tive foi a de encadernador, depois interrompi esta atividade e fui para o colégio. Só mais tarde foi que arrumei trabalho no Museu Regional. Desenvolvi meu campo profissional
Cotidiano atual
Moro com a minha mãe e três irmãs, duas irmãs solteiras e três sobrinhos. Hoje a minha atividade mais importante é o meu trabalho, porque serve para manter a casa. É muito interessante o dia, porque cada dia é uma surpresa diferente. Eu gostei muito do dia que eu comecei a trabalhar fichado, igual eu estou hoje, como auxiliar de conservação e restauração, porque eu entrei como serviços gerais e logo fui ser escolhido para auxiliar de restauração. Nas horas de lazer eu planto horta, adoro mexer com plantas. Sou solteiro e não tenho filhos. Gosto de política, e sou da antiga UDN, lembro-me da primeira vez que votei, achei que estava votando no candidato certo e estava cada vez votando errado. Sou católico, mas no momento estou bem afastado da religião, já trabalhei na igreja, fiz parte do Movimento Comunitário Dom Bosco, mas no momento não estou me envolvendo em nada. Gosto de natação e não tenho hobby, não freqüento clubes.
Expectiva de vida
Meu maior desejo é que as coisas melhorassem e que a gente pudesse arrumar emprego para todo mundo, principalmente para os meus sobrinhos. A minha maior decepção é com a situação atual do país. Meu sonho é poder comprar uma casa.
Minha vida hoje é um pouco corrida, a gente corre muito para adquirir as coisas, acho a vida hoje muito apertada.
Os imigrantes italianos em São João Del Rei
O núcleo foi destinado exclusivamente a colonos italianos. Estes e seus descendentes deram uma grande contribuição para o progresso da indústria têxtil em São João Del Rei. A ideia de atrair imigrantes para São João Del Rei se fortaleceu com a possibilidade da chegada da ferrovia na cidade. Não foram somente os imigrantes recusados por fazendeiros da região que formaram o núcleo do Marçal. A intenção das autoridades, da Cia. de estrada de ferro e, posteriormente da Cia. Agrícola era de formar núcleos coloniais, habitando assim as áreas de atuação destas empresas que eram pouco povoadas e, ao mesmo, promovendo o “embranquecimento” e a “europeização” da população local. Seriam oferecidos ao imigrante um lote de terras, a subvenção estatal e a garantia de mercado para seus produtos, a Cia. Agrícola Oeste de Minas compraria a produção destes imigrantes e a ferrovia garantiria o escoamento desta produção. Esta política de implantação de novos núcleos não foi implementada, ficando restrita ao núcleo colonial de São João Del Rei. Temos elementos suficientes para afirmar que a implantação do núcleo colonial na região se concretizou pela existência da ferrovia.
Os colonos italianos instalados em São João Del Rei experimentaram duas fases com situações administrativas distintas dentro do núcleo. A primeira, de 1888 até 1894, é marcada pela falta de interesse do Estado em prestar assistência ao núcleo. Os imigrantes italianos tiveram que buscar alternativas para tirarem o sustento. No periódico “A Pátria Mineira” de 01 de Agosto de 1889 já trouxe notícias sobre o estado de abandono em que se encontravam os colonos e que a demora para o pagamento das habitações em construção “poderia acarretar desanimo aos colonos”. Nesta fase, o Estado pretendia desalojar os imigrantes do núcleo para construir a capital mineira naquela área. Tal período de abandono levou a várias reclamações dos imigrantes à Câmara Municipal de São João Del Rei. Os relatos de Carlos de Laet sobre a várzea do Marçal retratam esse estado de abandono: “A várzea do Marçal (...) tem ultimamente adquirido fama, e não pequena, por ser um dos pontos indigitados para o assentamento da futura capital do Estado de Minas. (...)Tudo isso (...) está quase desabitado. Apenas vinte fogos contaram os engenheiros em área de tamanhas dimensões! Raros colonos cultivam algumas hortaliças ou entregam-se à destruição do mato para fazer lenha”.
A segunda fase começa a partir de 1894, quando se define o local para se assentar a nova capital, e vai até a emancipação do núcleo em 1900. Nesta fase o Estado investiu e fiscalizou os núcleos coloniais. O núcleo são-joanense passou a contar com o administrador nomeado pelo município, neste interregno ocorreu a maior prosperidade do núcleo. Várias casas, pontes e estradas foram construídas. A produção agropecuária aumentou e a indústria de olaria expandiu a produção de tijolos e telhas. Com as melhorias, o núcleo conseguiu a emancipação, passando a se manter sem a tutela do Estado, e foi integrado ao município de São João Del Rei.
Em São João Del Rei, alguns dos imigrantes italianos e seus descendentes se integraram à sociedade são-joanense e participaram da atividade comercial e industrial da cidade. Alguns imigrantes, com o apoio da Câmara Municipal, deixaram a lavoura e partiram para a atividade comercial na cidade. Outros imigrantes ou descendentes tornaram-se operários na indústria têxtil.
A imigração italiana em São João Del Rei possibilitou o aumento da população, influenciou a diversificação do comércio da cidade, os imigrantes forneceram produtos de olaria para construção de novas edificações, aumentaram a oferta de produtos agropecuários na região e forneceram mão-de-obra para o desenvolvimento da indústria têxtil.
Favorecendo o aumento do contato entre a população do núcleo com a cidade e, além do contato, a integração do núcleo à mesma, foi inaugurada em 21 de abril de 1910, o ramal ferroviário da E.F. Oeste de Minas ligando São João Del Rei a Águas Santas. O ramal ferroviário de 11,805 km partia da estação Chagas Dória, em Matosinhos, atravessava o rio das Mortes, cortava a colônia do Marçal e ia até o balneário de Águas Santas. Este ramal melhorou as comunicações e agilizou o fluxo de mercadorias e passageiros do núcleo colonial ao núcleo urbano de São João Del Rei.
São João Del Rei também recebeu imigrantes de outros países como a alemães, turcos, franceses, portugueses e outros.
Uma contribuição de imigrantes franceses foi a criação a empresa Bozel no município de São João Del Rei como segue o histórico abaixo.
Bozel, com sede e planta no Brasil, unidade operacional na França e escritório de marketing e vendas nos EUA, é a maior produtora de Cálcio Silício do ocidente, sendo também produtora de outras ferro ligas em inúmeras granulometrias. Com o domínio da produção de bobinas de Cored Wire em várias dimensões e materiais, completa-se o ciclo de fornecimento de matéria prima objetivando o melhor atendimento aos produtores de aço.
Fonte: http://www.bozel.com/historia.html
Foi entrevistado o engenheiro químico Sr
.Claude Chalifour
, imigrante Francês que veio para São João Del Rei para trabalhar na BOZEL
. Ele nasceu dia 14/08/1941 em Chindrieux
na França. Em 1978, com 37 anos, ele veio para São João Del Rei. Em 78 ele descreve que São João era uma cidade muito tranquila
e não tinha tanta violência como têm hoje, os jovens eram mais tranquilos. Claude fala que não teve muitos problemas para se adaptar e que a única coisa que ele se sente muito incomodado é com o frio, tanto que quando chegava o inverno ele entrava em férias e viajava para França (quando aqui
e inverno lá e verão), hoje como ele já esta aposentado, fica seis meses no Brasil e seis meses na França, pra fugir do inverno. Ao contar um pouco sobre a família Claude se confundi diz que não tem muito do que falar de seus familiares, ele e filho único e não tem uma família grande, vem de uma família nobre perdeu seus pais muito cedo, se casou duas vezes. No primeiro casamento foi na França resultando em dois filhos hoje a filha é enfermeira e o filho é comerciante. No segundo casamento, Claude conheceu Edna Chalifour
em São João Del Rei, se casou e tem um filho com ela atualmente esse filho vive na França como músico. Pergunto se ele prefere a França ou Brasil? Ele sorri e fala que era difícil escolher, mas que prefere o Brasil, mas nunca se desfaz da França. Empolgado conta um pouco sobre lá e de como e bonito principalmente as paisagens naturais, que na cidade onde mora e no interior da França é muito bela. Na entrevista temos dificuldade de conversar, pois ele só fala em francês e só entende o português então sua mulher traduzia o que ele falava para conseguirmos fazer a entrevista.
Hoje Claude vive com a sua mulher Edna, tem dificuldade de se mover pelo fato de ter pinos no joelho por causa de acidente de trabalho, em sua maior parte de tempo livre faz belos bordados como um hobby no que diz ser normal na França. No fim da entrevista peço pra tirar uma foto ele diz que só poderia tirar com o consentimento de Edna e que só tirava se ela tivesse ao seu lado (antes de começar a entrevista pergunto se eu poderia filmar, ele não permite fala que é algo de cultura).
Na foto Claude Chalifour ao lado de sua esposa Edna Chalifour.